domingo, 22 de dezembro de 2013

Uma unanimidade maior que a de Deus

Estive num curso de estilos de liderança e de práticas baseadas na Psicologia Positiva e presenciei dois fatos que me fizeram pensar sobre a natureza humana.

O primeiro fato foi a descoberta de que Deus não é mais uma unanimidade em nossa sociedade, pois quando o palestrante exibiu um slide de cunho religioso esperando que toda a plateia concordasse com seu raciocínio, uma participante cética teve a coragem de se manifestar contra a multidão de devotos.

O segundo fato foi o silêncio unânime em resposta a esta pergunta feita pelo palestrante: "Alguém aqui presente não quer ser amado?"

Veio-me à mente, então, o quanto tudo que nós humanos fazemos está ligado a este desejo de ser amado, desde o primeiro choro de uma criança até o autoritarismo violento do pior dos ditadores. O amor é a verdadeira "moeda de troca" em todas as relações humanas, seja ele recebido como o amor por novas experiências, o amor fantasioso pelo que não se está acostumado a viver, o amor apaixonado que se crê correspondido, ou o amor rotineiro pelo que se está habituado a praticar todos os dias. Já a demonstração desse amor pode se dar por meio de palavras de afirmação, apresentação de serviço, presentes, tempo de qualidade, ou toque físico.

No capitalismo estamos acostumados a "amar" presentes, principalmente na forma de dinheiro vivo, em troca de hábitos produtivos (principalmente a prestação de serviços a clientes externos), ainda que essas formas de demonstrar e de receber o amor não sejam nossas preferidas, pois trata-se de uma questão de sobrevivência e, portanto, de amor próprio.

Felizmente algumas organizações estão descobrindo que podem oferecer mais que apenas dinheiro para seus membros e esperar que eles retribuam essas outras demonstrações de amor de formas diferentes, por exemplo, quando uma empresa oferece vagas de estacionamento ou dias livres para seus melhores funcionários (ou para que seus funcionários sejam melhores) e abram espaço para que seus funcionários experimentem novas formas de fazer seu trabalho ou para que utilizem parte de seu tempo no desenvolvimento de projetos pessoais bancados pela empresa. A qualidade de vida nesses casos pode ser bem maior do que a de empregos que paguem bem melhor somente em dinheiro. Talvez essa possa ser a base para uma Economia Prerrogativa, pós-monetária.

O importante é saber o que é o verdadeiro amor que se quer - e não somente atrair a atenção das pessoas como fazem as crianças malcriadas e os criminosos - e ter consciência que antes de se exigir tal amor das outras pessoas é preciso que este mesmo amor seja oferecido primeiro por você, independente da forma que você possa oferecer.

Referências bibliográficas

  • Aforismos sobre a Felicidade, de Vatsyayana
  • As cinco linguagens do amor, de Gary Chapman