segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Hábitos e Passatempos em vez de Metas e Projetos Pessoais

Ultimamente tenho tentado me adaptar a seguidos sistemas de organização pessoal que visam a realização pessoal por meio de metas precisas e projetos fixados, como os métodos GTD (Getting Things Done, traduzido por aqui como Fazer-Acontecer) e a Tríade do Tempo, porém nunca consegui aderir completamente a nenhum desses sistemas e não sabia muito bem por que meus projetos pessoais se multiplicavam, se acumulavam e não se concretizavam, nem minhas metas pessoais não eram perseguidas nem atingidas.

Hoje me veio uma luz: talvez esses métodos tão promissores não funcionem comigo por serem excessivamente "empresariais", "corporativos" demais, com seus prazos para cada etapa de projeto e seus indicadores semanais de metas a serem atingidas, sempre visando uma certa "produtividade" pessoal, quando na verdade eu preciso aprender a relaxar em meu tempo livre, encarando portanto meus projetos pessoais como passatempos sem a exigência de entregas a serem feitas em períodos determinados, e minhas metas pessoais como benefícios indiretos do cultivo de bons hábitos, com o direito a conquistar o perdão antecipado para escapar de vez em quando e o dever de assumir sacrifícios maiores na forma de desafios de regras mais restritivas, no caso de não merecer ainda aquele tal perdão antecipado.

Com certeza muita gente bem-sucedida já faz isso ainda que inconscientemente, afinal, não serei eu aqui a "inventar a roda", pois inclusive não teria chegado a tais conclusões sem ter lido "A Arte da Procrastinação: Como Realizar Tarefas Deixando-as para Depois", apesar de ser mérito meu integrá-la com a ideia dos projetos pessoais dos outros métodos como passatempos, pois sou mestre em encontrar relações entre conceitos a princípio desconexos e integrá-los de alguma forma engenhosa.

Posteriormente, posso até adaptar aqueles supracitados métodos e desenvolver melhor um sistema próprio de organização pessoal mais generoso para com nossa natureza humana, e mais conforme ao uso mais saudável e recreativo de nosso tempo livre, inclusive das eventuais pausas e intervalos durante as horas de serviço, tornando as obrigações diárias mais leves e obtendo gradativamente e espontaneamente a seu próprio tempo a almejada realização pessoal.

Talvez eu também transforme objetivos pessoais e visões de futuro em sonhos que podem se realizar por coincidência ou me surpreender de alguma forma boa, e a tal missão pessoal numa busca pessoal por significados individuais num mundo tão desafiador quando rico de potenciais aliados e sucessos.

Quem sabe eu até converta o método num jogo cujas regras são descobrir e superar meus próprios limites, ser desafiado pelas exigências inerentes a cada situação de amadurecimento pessoal, desenvolver cada vez mais capacidade de agir com liberdade, e conquistar cada vez mais dignidade entre as pessoas que realmente importam para mim.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Adeus, pequeno mestre.

Adeus, pequeno mestre Fofinho, cor de veludo cinza.

Quando não amamos o suficiente, até aqueles pelos quais temos mais carinho estão sujeitos aos acidentes de nossos atos negligentes ou imprudentes.

Tão companheiro que nem precisou nos perdoar pelo mal, ainda que não pudesse saber que não foi intencional, mas irracional, como seu perdão.

Não amar o suficiente, com o devido cuidado pelos nossos, é amar errado, é viver em pecado e estar sujeito às sombras da morte.

Nunca mais o encontrarei a me esperar ao portão na volta do trabalho para entrarmos juntos em casa.

De hoje em diante não terei mais ninguém dócil como você para saltar na mesa e deitar-se sobre as páginas de minhas leituras.

E ninguém mais a me pedir comida e a exigir minha companhia enquanto come.

Ninguém mais a me seguir em cada cômodo, deitado enrolado sobre alguma superfície alta ou confortável.

Sua última semana foi de dor incompreensão, não mais aceitando o convite para passar pela porta da frente, esquecendo-se de beber água e de se alimentar, com o medo visível nas pupilas dilatadas.

Seus últimos momentos foram a cambalear e se arrastar, desmaiando em cochilos pela incapacidade de manter a consciência, entre despertares breves em que miava desesperado e impotente.

Amanheceu desfalecido, de olhos completamente negros e dentes entreabertos, com os antes belos pelos úmidos de orvalho matinal.

Hoje orei três vezes para que os espíritos dos iluminados tenham compaixão de ti até que seu espírito seja livre das amarras da alma e possa existir em paz de volta às dimensões primordiais.

Boa sorte em suas futuras jornadas, Fofinho. 😿😢

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Pura tolice, não perca seu tempo

Certa vez um tolo disse que a alma existia fisicamente e que nossa Ciência estava prestes a compreender sua natureza, mas que o seu ceticismo em relação a todas as fontes de conhecimento que não fossem sensoriais estava atrasando este próximo progresso da Humanidade. Este tolo acredita numa tecnologia metafísica, capaz de milagres.

O tolo disse também que a alma era diferente do espírito, e que ela o enredava durante toda a vida do corpo físico, libertando este espírito apenas quando o corpo morria, perdendo seu ânimo psicológico.

Disse que o espírito não tem dimensões físicas determinadas e que, portanto, sua luz ocupava todo o espaço disponível no organismo dentro da rede da alma enganchada às vértebras da coluna, mas que ainda era capaz de escapar das dimensões deste universo material durante os sonhos e em outros estados alterados de consciência.

Para o tolo, a natureza do espírito era metafísica e se assemelhava à beleza das lógicas matemática e semântica que definiram todo este universo material sem depender dele em suas abstrações da realidade, algo bem próximo de nossa concepção de uma divindade que vive além de sua própria criação.

Sendo assim, para o tolo, cada espírito é como uma entidade matemática, que pode se repetir sem deixar de ser outra entidade distinta da original, e cuja existência é eterna por definição. A diferença é que, para o tolo, a cognição de cada espírito testemunha sua existência por meio dos órgãos sensoriais que possua no momento, e é capaz de conduzir as correntes do ânimo por meio de sua própria vontade.

O tolo disse que falta à Ciência perceber que as sutis criptopartículas invisíveis mas pesadas que tanto se esforça para encontrar são a matéria-prima da alma, e dão ânimo aos seres vivos, fluindo por seus corpos conforme seus estados emocionais, assim como forma correntes atmosféricas entre as nuvens e correntes cósmicas entre corpos celestes, envolvendo e dando forma a nosso sistema estelar e nossa galáxia dentro de uma enorme esfera de ânimo cujo peso pode ser sentido mas não visto.

O tolo sente o fluxo de seu ânimo emocional correr pelos tendões que encapsulam seus músculos, formando poças estagnadas apenas quando se preocupa, seja pelo desespero da desconfiança, seja por vergonha, culpa ou qualquer outro desamparo afetivo, e sabe que o verdadeiro sentido da palavra "importante" está relacionado à principal preocupação que cada pessoa carrega em silêncio retumbante a cada momento.

O tolo afirma ter certeza de que os espíritos podem ser enredados pelas almas dentro de qualquer forma de vida, não apenas nas pessoas, e que isso depende do modo de consciência em que o espírito se encontra antes de ser enredado para renascer fisicamente.

Para o tolo, pessoas que falecem perdidas em estado de loucura devem renascer como animais irracionais para recobrarem a paixão pela vida, assim como pessoas falecidas em estado de graça conseguem renascer em outras dimensões existenciais mais agradáveis, em formas de vida tidas como entidades poderosas para os humanos e outras formas de vida inteligentes, e que podem novamente renascer como humanos ou seres equivalentes caso morram em estado de arrogância. Para o tolo, há uma dinâmica de equilíbrio espiritual que sustenta e dá sentido à evolução da consciência existencial na eternidade.

O tolo percebe que vários guias espirituais de religiões diferentes estão falando disso, mas sabe que cada um deles se apega estritamente às palavras de suas próprias escrituras como náufragos com medo de serem carregados pela heresia ou pela apostasia.

A cabeça do tolo é incapaz de evitar a integração de todo conhecimento que assimila a tudo que já descobriu, apesar dessa capacidade associativa ser tida como causa de sua doença mental, que pode levar à alienação e, por fim, à demência precoce, mas o tolo prefere não contrariá-los e se submete a todos os seus diagnósticos e tratamentos, por mais ignorantes desta realidade que sejam.

O tolo confessa que acredita nas palavras de um austríaco louco que morreu no cárcere, que considera um cientista de verdade, e na maturidade ética suprema do Cristo, bem como na sabedoria transcendental do jovem ancião chinês e do iluminado tibetano, ainda que isso seja considerado misticismo pelos espíritos que vivem e morrem adormecidos.

Mãe, como sou tolo.

terça-feira, 31 de julho de 2018

O Eterno Exercício da Crença

Ás vezes acordo mal, com vontade de cumprimentar as pessoas com um "Bom dia, humanos!", como se eu não fosse ou não me considerasse um deles, algo diferente como um animal selvagem, um monstro ou algo estranho, talvez um alienígena, um forasteiro, alheio às suas rotinas humanas. Apesar de eu me sentir pior que eles, isso soa arrogante de minha parte, talvez porque ser humano não seja assim tão bom quanto se gabam os "filhos do Dono", herdeiros bíblicos deste mundão que Deus Pai lhes garantiu no Gênesis.

Hoje acordei melhor, pensando em cumprimentar as pessoas com um "Olá, outros humanos!", como se eu tivesse abandonado o tal modo da ignorância aversiva ao que sou, e tivesse me igualado à maioria da humanidade no modo das paixões por quem são e pelas coisas que existem neste mundo. Só espero não me apegar demais às sensações agradáveis a ponto de me tornar possessivo, invejoso ou ciumento como algumas pessoas viciadas nesta realidade transitória.

Nesta quarta-feira de cinzas do ano de 2018, tive a experiência do modo da bondade, da boa vontade em relação à existência. Pessoas que costumavam me irritar por seus maus hábitos passaram a me inspirar piedade pelo seu sofrimento autoimposto. A consequência disso foi uma plena paz de espírito, livre de preocupações cansativas, o que garantia tanta disposição e entusiasmo que passei a dormir apenas 4 horas, acordando disposto para os afazeres diários. Sentia o contentamento por estar vivo e ter garantido pelo menos o suficiente para viver bem, apesar de todas as dificuldades. Uma análise clínica talvez me desse o inusitado diagnóstico psicológico de fase maníaca de um transtorno bipolar cuja fase depressiva durou décadas.

Não temos muito o que fazer com nossas emoções, mas descobri que podemos mudar nosso estado de espírito, o que afeta indiretamente nosso ânimo, bastando decidir mudar nosso tipo de crença, por exemplo, de um conjunto de crenças com viés negativo (relativas ao que falta, ao que se perdeu e ao que não existe ainda) para crenças mais positivas (relativas ao que somos capazes, ao que é possível e a assumir desafios). A partir daí, mágoas podem dar lugar a saudades, pileques podem dar lugar ao entusiasmo, desconfianças podem dar lugar à prudência, indignação pode dar lugar à coragem, e preocupações podem dar lugar ao carinho. É como se escolhêssemos amar outra coisa além de nós mesmos, nos apaixonando por um sentido maior do que nossas vidas. Sim, é uma escolha, uma decisão pessoal que pode alterar toda a natureza da realidade para nós, ainda que o mundo material pareça continuar o mesmo de sempre. E apesar de soar como algo simples, precisa ser exercido a cada momento, e está sujeito à nossa opinião sobre as coisas que acontecem conosco, podendo voltar ao que já foi muito facilmente.

Não posso dizer que um modo de crer seja pior ou melhor que os outros, já que ser bem-sucedido quando se espera o pior é como vencer no modo mais difícil, contra todas as dificuldades, porém, se não conhecemos os modos de crer mais otimistas, podemos facilmente sucumbir, desistindo de continuar vivos. Portanto, se precisar ajudar alguém deprimido apesar de tudo de bom que acontece na vida dessa pessoa, elogie o fato dela ter sobrevivido apesar de "jogar (viver a vida) no modo hard". Então você poderá mostrar que há outras formas de encarar a mesma realidade.

Mas quem sou eu para dizer que depressão tem "cura" e não "remédio"?

quinta-feira, 26 de julho de 2018

A Ilusão do Autoproprietário

O Liberalismo Econômico clássico se baseia na premissa ética do Direito Natural, de que somos autoproprietários de nossas vidas e que, portanto, temos todo direito à autodefesa razoável de nossas propriedades contra quaisquer agressões (Princípio da Não Agressão e Direito de Autodefesa).

Porém os títulos de "proprietário" ou "dono" de algo nunca serão absolutos, tendo mais a natureza de cargos transitórios ou títulos de nobreza, visto que não temos pleno domínio nem de nossos próprios corpos, sujeitos que estamos às suas involuntariedades fisiológicas internas e à coerção externa por parte dos corpos de outras pessoas e por parte das contingências ambientais.

Tanto é assim que nascemos incapazes e dependentes de cuidadores e precisamos de tutores até adquirirmos autonomia e domínio suficiente para sermos considerados capazes para a vida civil, capacidade esta que pode ser abalada e suspensa facilmente por qualquer reação emocional mais intensa a algum estressor ou pela ingestão de qualquer substância entorpecente, como algumas doses de álcool por exemplo, suficientes para interditar uma pessoa, ainda que transitoriamente.

Melhor seria, então, nos considerarmos (auto-)"arrendatários" ou (auto-)"zeladores", responsáveis por nós mesmos e pelos bens jurídicos que conquistamos ou herdamos e mantemos, com plenos direitos sobre aquilo que zelamos e sujeitos à suspensão, ainda que transitória, desses direitos de autodefesa sobre aquilo que negligenciamos, assim como a Lei natural e eterna do universo retira a saúde dos organismos que não se cuidam, tornando-os obesos ou doentes, e conforme a Lei divina de que nossa existência neste mundo é transitória e de que a vida é uma dádiva cujos frutos devem ser merecidos ou recebidos e cuidados com gratidão.

Sob esta perspectiva, o próprio Direito liberal-econômico de Autodefesa passa a ser um Dever irrenunciável de cada Autozelador, inclusive no sentido de lutar contra pequenas agressões diárias, por parte dos Poderes do Estado e dos Conglomerados Corporativos, com as quais tenha se acostumado e se acomodado de forma conformista.

As comunidades de Autozeladores devem ser capazes de colonizar qualquer mundo como se fossem nativos desta Realidade material, embora imbuídos de espírito sânito e com as almas livres de deficiências afetivas, convivendo em harmonia celestial por meio de dádivas, acordos, negociações e disputas justas.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Edificação da obra divina

Nosso espírito, ao mesmo tempo que é desenvolvido de forma extarordinária pelo organismo físico que o hospeda, também é um colonizador de mundos, um conquistador desta realidade física, como se não pertencesse a esta natureza e ao seu fluxo cósmico, como se obedecesse a uma lógica alienígena à dos nativos desta dimensão existencial.

Por isso mesmo temos esse potencial para nos tornarmos perversos ou divinos, seja em poder material transitório, seja ecoando nossa eternidade em palavras divinas cujo sentido óbvio se perde nas eras com o esquecimento das formas escritas, que também são materiais e, portanto, transitórias.

A edificação da obra do espírito, embora eterna em essência, depende da perpetuação da palavra e de seus sentidos a ressoarem por muitas vidas sem quebra de continuidade.

A verdadeira luta entre o bem e o mal está na coletividade de espíritos sânitos ser capaz de edificar essa obra com a máxima glória que é seu desígnio, enquanto se esforça para que não sofra da degradação natural de tudo que existe na matéria em movimento.

Nossos espíritos são a evolução da alma que sustenta a existência, e apesar de conseguir realizar prodígios sobre os corpos físicos e as razões lógicas por se desvencilharem dessa ordem natural que é a alma, apenas quando dominam a si mesmos em sintonia com a palavra eterna da alma cósmica parecem capazes de superar os aparentes limites naturais e bestiais manifestando o verdadeiro bem além das aparências e da razão.

Irmãos em espírito, saibam que o desamparo neste mundo é aparente, e que a vida plena do sentido cósmico é boa vontade, ânimo inabalável, maior que qualquer força de vontade em conflito consigo mesma. Descubram "quem" é "Deus", amem a autoridade que é sânita em sua conduta, e vivam na paz de espírito edificando sua obra, sem que este mundo acidental os perturbe. Quem somos nós para desafiar a verdade.