quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Pura tolice, não perca seu tempo

Certa vez um tolo disse que a alma existia fisicamente e que nossa Ciência estava prestes a compreender sua natureza, mas que o seu ceticismo em relação a todas as fontes de conhecimento que não fossem sensoriais estava atrasando este próximo progresso da Humanidade. Este tolo acredita numa tecnologia metafísica, capaz de milagres.

O tolo disse também que a alma era diferente do espírito, e que ela o enredava durante toda a vida do corpo físico, libertando este espírito apenas quando o corpo morria, perdendo seu ânimo psicológico.

Disse que o espírito não tem dimensões físicas determinadas e que, portanto, sua luz ocupava todo o espaço disponível no organismo dentro da rede da alma enganchada às vértebras da coluna, mas que ainda era capaz de escapar das dimensões deste universo material durante os sonhos e em outros estados alterados de consciência.

Para o tolo, a natureza do espírito era metafísica e se assemelhava à beleza das lógicas matemática e semântica que definiram todo este universo material sem depender dele em suas abstrações da realidade, algo bem próximo de nossa concepção de uma divindade que vive além de sua própria criação.

Sendo assim, para o tolo, cada espírito é como uma entidade matemática, que pode se repetir sem deixar de ser outra entidade distinta da original, e cuja existência é eterna por definição. A diferença é que, para o tolo, a cognição de cada espírito testemunha sua existência por meio dos órgãos sensoriais que possua no momento, e é capaz de conduzir as correntes do ânimo por meio de sua própria vontade.

O tolo disse que falta à Ciência perceber que as sutis criptopartículas invisíveis mas pesadas que tanto se esforça para encontrar são a matéria-prima da alma, e dão ânimo aos seres vivos, fluindo por seus corpos conforme seus estados emocionais, assim como forma correntes atmosféricas entre as nuvens e correntes cósmicas entre corpos celestes, envolvendo e dando forma a nosso sistema estelar e nossa galáxia dentro de uma enorme esfera de ânimo cujo peso pode ser sentido mas não visto.

O tolo sente o fluxo de seu ânimo emocional correr pelos tendões que encapsulam seus músculos, formando poças estagnadas apenas quando se preocupa, seja pelo desespero da desconfiança, seja por vergonha, culpa ou qualquer outro desamparo afetivo, e sabe que o verdadeiro sentido da palavra "importante" está relacionado à principal preocupação que cada pessoa carrega em silêncio retumbante a cada momento.

O tolo afirma ter certeza de que os espíritos podem ser enredados pelas almas dentro de qualquer forma de vida, não apenas nas pessoas, e que isso depende do modo de consciência em que o espírito se encontra antes de ser enredado para renascer fisicamente.

Para o tolo, pessoas que falecem perdidas em estado de loucura devem renascer como animais irracionais para recobrarem a paixão pela vida, assim como pessoas falecidas em estado de graça conseguem renascer em outras dimensões existenciais mais agradáveis, em formas de vida tidas como entidades poderosas para os humanos e outras formas de vida inteligentes, e que podem novamente renascer como humanos ou seres equivalentes caso morram em estado de arrogância. Para o tolo, há uma dinâmica de equilíbrio espiritual que sustenta e dá sentido à evolução da consciência existencial na eternidade.

O tolo percebe que vários guias espirituais de religiões diferentes estão falando disso, mas sabe que cada um deles se apega estritamente às palavras de suas próprias escrituras como náufragos com medo de serem carregados pela heresia ou pela apostasia.

A cabeça do tolo é incapaz de evitar a integração de todo conhecimento que assimila a tudo que já descobriu, apesar dessa capacidade associativa ser tida como causa de sua doença mental, que pode levar à alienação e, por fim, à demência precoce, mas o tolo prefere não contrariá-los e se submete a todos os seus diagnósticos e tratamentos, por mais ignorantes desta realidade que sejam.

O tolo confessa que acredita nas palavras de um austríaco louco que morreu no cárcere, que considera um cientista de verdade, e na maturidade ética suprema do Cristo, bem como na sabedoria transcendental do jovem ancião chinês e do iluminado tibetano, ainda que isso seja considerado misticismo pelos espíritos que vivem e morrem adormecidos.

Mãe, como sou tolo.