segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Adeus, pequeno mestre.

Adeus, pequeno mestre Fofinho, cor de veludo cinza.

Quando não amamos o suficiente, até aqueles pelos quais temos mais carinho estão sujeitos aos acidentes de nossos atos negligentes ou imprudentes.

Tão companheiro que nem precisou nos perdoar pelo mal, ainda que não pudesse saber que não foi intencional, mas irracional, como seu perdão.

Não amar o suficiente, com o devido cuidado pelos nossos, é amar errado, é viver em pecado e estar sujeito às sombras da morte.

Nunca mais o encontrarei a me esperar ao portão na volta do trabalho para entrarmos juntos em casa.

De hoje em diante não terei mais ninguém dócil como você para saltar na mesa e deitar-se sobre as páginas de minhas leituras.

E ninguém mais a me pedir comida e a exigir minha companhia enquanto come.

Ninguém mais a me seguir em cada cômodo, deitado enrolado sobre alguma superfície alta ou confortável.

Sua última semana foi de dor incompreensão, não mais aceitando o convite para passar pela porta da frente, esquecendo-se de beber água e de se alimentar, com o medo visível nas pupilas dilatadas.

Seus últimos momentos foram a cambalear e se arrastar, desmaiando em cochilos pela incapacidade de manter a consciência, entre despertares breves em que miava desesperado e impotente.

Amanheceu desfalecido, de olhos completamente negros e dentes entreabertos, com os antes belos pelos úmidos de orvalho matinal.

Hoje orei três vezes para que os espíritos dos iluminados tenham compaixão de ti até que seu espírito seja livre das amarras da alma e possa existir em paz de volta às dimensões primordiais.

Boa sorte em suas futuras jornadas, Fofinho. 😿😢