sexta-feira, 12 de abril de 2019

Padrões estereotipados, nosso cativeiro

Na mitologia do jogo Kult, a humanidade é mantida em cativeiro por carcereiros imortais em posições de poder.

Nos jogos do Mundo das Trevas da White Wolf, uma das três forças primordiais que sustentam o universo sombrio é a Weaver, a essência dos padrões, tecidos na teia da realidade. O Arconte equivalente na cabala da Metrópolis de Kult seria Tiphareth, a Beleza.

Hoje me descobri enredado num padrão traumático, revivido e reencenado durante as quatro décadas desta minha atual existência. A cada novo ciclo solar, na mesma época do ano, aproximadamente um mês após minha data de nascimento, um padrão complexo de paixão, abuso e insanidade se repete com intensidade crescente, apenas contida por drogas psiquiátricas e conselhos terapêuticos.

Acredito ter sido aprisionado neste padrão ainda na infância, aparentemente vítima da violência doméstica de uma babá, figura que, como os pais para um bebê, inspira respeito autoritário e dependência de cuidados. Esse papel depois se transfigurou em professores, sacerdotes, policiais, chefes, políticos, sempre num misto de abuso de poder e de não fazerem nada a respeito. Talvez por causa do próprio Brasil, quem sabe este seja um padrão nacional do qual poucos se deem conta.

A jornada do herói iconoclasta, capaz de romper um padrão nocivo, começa após negar várias vezes o chamado da aventura de viver, situação em que buscará o dom para enfrentar e superar o padrão, antes que possa voltar para um mundo que não será mais o mesmo.

Por analogia, o Padrão supremo, talvez o próprio Monomito, seria o deus Vishnu, reencarnando como uma série de avatares para restaurar a ordem a um mundo corrompido. Um padrão superior capaz de nos libertar dos padrões que nos encarceram, sem deixar de ser também outro padrão, ainda que de sucesso e felicidade. Talvez fosse isso que a mãe-de-santo quis dizer quando definiu meu orixá de cabeça dizendo "Xangô, meu pai, seu filho quer justiça!".

Quem sabe os guias e terapeutas espirituais do futuro não sejam conselheiros no caminho de cada protagonista perdido em seus labirintos, a fim de libertá-los para a vida plena.