quinta-feira, 26 de julho de 2018

A Ilusão do Autoproprietário

O Liberalismo Econômico clássico se baseia na premissa ética do Direito Natural, de que somos autoproprietários de nossas vidas e que, portanto, temos todo direito à autodefesa razoável de nossas propriedades contra quaisquer agressões (Princípio da Não Agressão e Direito de Autodefesa).

Porém os títulos de "proprietário" ou "dono" de algo nunca serão absolutos, tendo mais a natureza de cargos transitórios ou títulos de nobreza, visto que não temos pleno domínio nem de nossos próprios corpos, sujeitos que estamos às suas involuntariedades fisiológicas internas e à coerção externa por parte dos corpos de outras pessoas e por parte das contingências ambientais.

Tanto é assim que nascemos incapazes e dependentes de cuidadores e precisamos de tutores até adquirirmos autonomia e domínio suficiente para sermos considerados capazes para a vida civil, capacidade esta que pode ser abalada e suspensa facilmente por qualquer reação emocional mais intensa a algum estressor ou pela ingestão de qualquer substância entorpecente, como algumas doses de álcool por exemplo, suficientes para interditar uma pessoa, ainda que transitoriamente.

Melhor seria, então, nos considerarmos (auto-)"arrendatários" ou (auto-)"zeladores", responsáveis por nós mesmos e pelos bens jurídicos que conquistamos ou herdamos e mantemos, com plenos direitos sobre aquilo que zelamos e sujeitos à suspensão, ainda que transitória, desses direitos de autodefesa sobre aquilo que negligenciamos, assim como a Lei natural e eterna do universo retira a saúde dos organismos que não se cuidam, tornando-os obesos ou doentes, e conforme a Lei divina de que nossa existência neste mundo é transitória e de que a vida é uma dádiva cujos frutos devem ser merecidos ou recebidos e cuidados com gratidão.

Sob esta perspectiva, o próprio Direito liberal-econômico de Autodefesa passa a ser um Dever irrenunciável de cada Autozelador, inclusive no sentido de lutar contra pequenas agressões diárias, por parte dos Poderes do Estado e dos Conglomerados Corporativos, com as quais tenha se acostumado e se acomodado de forma conformista.

As comunidades de Autozeladores devem ser capazes de colonizar qualquer mundo como se fossem nativos desta Realidade material, embora imbuídos de espírito sânito e com as almas livres de deficiências afetivas, convivendo em harmonia celestial por meio de dádivas, acordos, negociações e disputas justas.

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